Os Valentes do Wi-Fi

Existe uma nova espécie em ascensão. Não voa, não brilha no escuro, não tem superpoderes, mas acredita piamente que tem uma missão divina: salvar o mundo… com comentários anônimos e perfis falsos. São os justiceiros do Wi-Fi, os corajosos mascarados do teclado — ou, como carinhosamente chamamos, os sem-cara digitalizados.

Essas criaturas noturnas (porque o ódio parece render mais depois da meia-noite), criam perfis com nomes criativos como “@olhosabertos_24h” ou “@falamemaisnadiz” e, com um avatar de um gato ou uma bandeira genérica, saem destilando opiniões que jamais teriam coragem de dizer no calor de um café com o vizinho.

Reclamam de tudo: do prefeito ao preço da coxinha, da roupa da vizinha ao posicionamento político do papagaio. E tudo com a elegância de um rinoceronte com dor de dente. Mas, veja bem, são pessoas de “bem”, apenas “expressando seu ponto de vista”. Pena que o ponto de vista sempre sai pela culatra — e protegido por um e-mail falso e uma senha que nem eles lembram mais.

A verdade é que criar perfil fake virou um esporte. Quase uma modalidade olímpica. Tem gente que administra três, quatro personagens digitais. É o Clark Kent da fofoca, o Batman da indireta, o Homem-Aranha do textão passivo-agressivo. Mas a identidade secreta, nesse caso, não protege a sociedade — protege a covardia.

Porque criticar é fácil. Fácil mesmo é jogar pedra e esconder o IP. O difícil, meus amigos, é ter rosto, RG, CPF e argumento. Difícil é chegar, com nome e sobrenome, e dizer: “eu penso assim”, correndo o risco de ouvir de volta: “e eu discordo”.

Mas o perfil fake não se arrisca. Ele ataca e corre. Comenta e some. Vive no reino do “ninguém vai saber que fui eu”, como se a internet fosse o fundo da caverna do Batman. Spoiler: não é.

Enquanto isso, seguimos assistindo. Entre risos, prints e um ou outro bloqueio providencial. Porque se tem algo que o mundo digital ensina é: quem não tem coragem de mostrar o rosto, dificilmente tem razão no que diz.