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Crônicas Charge

Crônica: “O Comentarista Voluntário de Bastidor Alheio”

Ele surge quando menos se espera. Às vezes, numa caixa de comentários, outras vezes no grupo da família, ou até na fila do pão.

29/05/2025 14h29
Por: Redação
Crônica: “O Comentarista Voluntário de Bastidor Alheio”

Crônica: “O Comentarista Voluntário de Bastidor Alheio”

Ele surge quando menos se espera. Às vezes, numa caixa de comentários, outras vezes no grupo da família, ou até na fila do pão. Você não o chama, mas ele vem. Você não pergunta, mas ele responde. Ele é o comentarista voluntário de bastidor alheio — o ser humano que acredita ter nascido com o dom sagrado da opinião infundada.

Sua especialidade? Assuntos que não domina, decisões das quais não participou e bastidores que nunca pisou. Mas, mesmo assim, fala como se tivesse escrito o roteiro, dirigido a cena e feito o figurino.

— “Isso aí tá errado. Eu se fosse eles, fazia diferente.”

A frase padrão. Não importa se é sobre política internacional, campeonato de curling ou o cardápio da escola municipal. Ele sabe. E se não sabe, ele acha. E se não acha, inventa com convicção.

O CVBA tem a incrível capacidade de transformar qualquer conversa em palanque pessoal. Nunca viu, nunca viveu, mas leu num comentário aleatório de um tio do primo do vizinho. E já que informação virou acessório, ele prefere se vestir de certezas.

É o sujeito que comenta sobre o casamento de famosos como se tivesse sido padrinho. Fala sobre reforma tributária como se tivesse escrito a Constituição. Questiona decisões técnicas com o famoso argumento:

— “Pra mim, isso aí é tudo armação.”

Sim. Porque pra ele, a verdade cabe em um áudio de 30 segundos no WhatsApp.

Mas não se engane: ele não quer debater. Ele quer vencer. Quer o like, o “concordo plenamente”, a palminha virtual. Quando alguém apresenta um fato? Ele rebate com:

— “Ah, mas isso aí é o que eles querem que a gente pense.”

Eles quem? Ninguém sabe. Mas são sempre os tais “eles”.

E assim o CVBA segue sua jornada, distribuindo certezas onde só caberia humildade. É uma espécie de coach do achismo, com mestrado em “intrometologia aplicada” e doutorado em “conversas que não me dizem respeito”.

A gente ri, claro. Porque é cômico. Mas também é trágico. Porque onde todo mundo se sente especialista em tudo, o respeito por quem realmente entende vai ficando pra depois.

No fundo, o comentarista voluntário de bastidor alheio só quer ser ouvido. Pena que escolhe gritar onde não foi chamado.

Então, fica aqui nossa singela homenagem a ele, essa figura folclórica da era digital. Que siga dando seus pitacos por aí… enquanto o mundo real continua sendo tocado por quem faz, e não por quem só fala.

E que nunca lhe falte um teclado, uma opinião e um bom espelho.

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