Justiça com os Olhos Vendados… e os Ouvidos Também
Na sala da casa — despedaçada como os vínculos que um dia foram chamados de “família” — o menino de oito anos assiste ao noticiário com o som baixo. A manchete grita:
“Homem é solto após audiência de custódia, vítima segue hospitalizada.”
Na tela, uma mulher com rosto coberto por hematomas. No sofá, outra — sua mãe — com os mesmos hematomas escondidos sob a maquiagem da sobrevivência.
Mas a violência ali não é só entre casal.
(São parentes que se agredem: o tio que bate no sobrinho, o sobrinho que ameaça o tio, o primo que virou inimigo, e o lar que virou ringue.)
No canto da casa, um porta-retrato com vidro quebrado. Nele, uma antiga foto de família: todos sorrindo.
Hoje, cada um tem um machucado — no corpo ou na alma.
A palavra “família” parece uma piada de gosto duvidoso.
A justiça?
De toga, senta-se à mesa. Usa venda nos olhos — símbolo da imparcialidade — mas agora também tapa os ouvidos.
Não escuta os gritos.
Não escuta o choro.
Escuta apenas o que cabe no Código Penal: “Réu primário”, “bons antecedentes”, “briga de família”.
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